Felizmente há outras formas de amar. Só que são mais difíceis, custam a aprender e cansam-nos muito mais. Ainda não encontrei em nenhum dicionário o verbo dar como sinónimo de amar, mas talvez ainda não seja tarde. Porque não concebo outra forma de amar que não seja a da partilha dos afectos e do despojamento de tudo aquilo que somos, com tudo o que de bom e de mau isso possa representar, nos braços daquele que amamos.
Um grande amor nunca se faz sem entrega, e se não há entrega então é porque não há amor. É como quem ama a vida: nunca tem medo de se entregar a ela, mesmo que isso lhe custe a sua própria existência. Quem tem medo da vida e da vontade acaba por não viver. Eu só sei amar assim, com mãos estendidas e o coração sem defesas. Chamam-me romântica. Eu acho que sou apenas lúcida. Se não viver assim, com o coração fora do peito, embalada por um sonho que me aquece o corpo e o espírito nas noites de mais um Outono morno e luminoso, sei que a tristeza pode tomar conta da minha vida e a seguir à tristeza ou vem a indiferença ou a loucura, que afinal podem ser e tantas vezes são a mesma coisa.
Nascemos todos para amar mas demoramos muitos anos a aprender que amar nem sempre é um verbo recíproco. Se essa fosse a primeira coisa a descobrir, viveríamos o amor de uma forma muito mais justa e serena. E cada vez que ele fosse correspondido, aceitaríamos tal presente como uma preciosidade, uma raridade, um bem de valor incalculável e inestimável.
O amor platónico é um amor egoísta e estéril e devia ser proibido. É como se Mozart nunca tivesse vendido as suas sinfonias, como se Monet escondesse os seus quadros, como se O’Neill recusasse partilhar com o mundo o seu espólio poético. O amor platónico é um erro, um absurdo, um disparate, um acto gratuito, quase criminoso.
Só aceito o amor platónico quando já não existe nenhuma outra forma de o viver. E só há uma impossibilidade real na vida; chama-se morte, é sempre inevitável, quase sempre inesperada e infelizmente irreversível. E quando ela chega e leva o nosso amor, então nessa altura, se pode viver um amor platónico, espiritual, sofrido, triste, desgastado, perdido e sem esperança.
Mas enquanto estamos vivos, é preciso saber viver o amor, esquecer as mágoas e matar inseguranças e acreditar que vale a pena amar alguém, que vale a pena partilhar o nosso amor, mesmo que quem o recebe não saiba abrir as mãos para o agarrar.
Se os homens sentissem mais e pensassem menos, talvez Platão se tivesse ocupado com outras teorias mais produtivas. Ou talvez não. Afinal de contas não era mulher. “