"São interessantes as afinidades entre Maria, de 'Play it as it Lays' de Joan Didion, e Marta, de 'Transa Atlântica' de Mónica Marques. Embora personagens pertencentes a universos distintos — geográficos, geracionais, culturais — as narrativas apanham ambas numa mesma faixa etária: a casa dos 30. Nesse específico período etático de uma mulher, que vai do golpe de misericórdia final na inocência ao primeiro vislumbre da crueldade do envelhecimento, a maioria já amou, deixou, sofreu, fodeu ou gritou. Umas, muito de tudo; outras, um pouco mais do que nada. Algumas foram ainda mães, sozinhas pelo caminho, sobretudo, ou muitas vezes nele tão mal acompanhadas. 'Maria' e 'Marta', cada uma à sua maneira, possuem gravado o código sentimental de um percurso universal e contemporâneo; feminino.
A uma aparente independência de costumes & vícios, legado da Modernidade, subsiste da mesma forma uma prisão consequente da imutabilidade da condição humana: a necessidade de afecto. Há também memórias — há sempre memórias — que despoletam no Presente receios e confusões; ou erros e omissões. As mulheres de trinta já sabem o que querem e muitas vezes também já o tiveram para consequentemente o perderem. Ou assim o crêem. Por culpa de incertezas, suas e de outrem, de abandonos, de desinteresses ou até das sogras, como algumas o fazem notar.
Em resumo e apesar de tudo, as mulheres de 30 ainda acreditam. Mas só mais uma vez."
(Não consegui deixar de fazer notar, aqui, este post de um blog do lado.)
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